Parte 1: Um Bom Sistema De Compras No Lugar De Nosso Modelo De Controle
- Afonso Oliveira de Almeida
- 9 de jun. de 2017
- 3 min de leitura
Nos últimos vinte anos, o governo aumentou em muito a população de gatos, mas a ratazana não permite à queijaria dormir em paz.

Os amigos que lhe recomendam enfrentar o problema, ou seja, ficar cara a cara com ele e derrotá-lo, são os mesmos que recorrem à metáfora do boi. Dono de um enorme chifre, o animal se expõe em demasia e vira presa fácil. Basta segurá-lo bem e tirar-lhe a pata de apoio. A derrubada é certa.
Esses conselheiros, verdadeiros amigos da onça, se especializam em atributos do mundo animal para nos brindar com bons exemplos de coragem. Não receie o leão do imposto de renda, pois anda preso em jaula, muito menos o cão que late, pois não morde. Tais conselheiros omitem detalhes importantes do humor leonino e canino, e é bom ter ciência deles. O cadeado da jaula do leão tributário destrava automaticamente, quando você cai na malha fina, e o cão que late, em algum momento para de latir. Daí, ele morde.
Não interrompa seus sonhos, se acredita em contos de fada. Mas não deixe de ler a estória de chapeuzinho vermelho e do lobo mau, se pretende dominar os assuntos da administração pública.
Duvide de tudo aquilo que lhe contam os desonestos, mas olho grande no rosto faceiro dos pudicos. Há sinceridade e retidão verdadeira em seus propósitos, mas a engrenagem que os envolve esconde armadilhas tão perversas quanto as que elaboram os desonestos. Para o crime, o inocente útil é tão útil quanto o bandido da organização e, sobre este, ele ainda leva imensa vantagem: costuma ficar calado.
Ao se cansar de filmes policiais e daquelas cenas de perseguição, nas quais super-homens de farda ou à paisana cercam, prendem ou matam o facínora, provavelmente você recorre ao noticiário para assistir, orgulhoso, ao combate feroz à corrupção, levado a – muito – efeito por agentes de segurança pública, membros do Ministério Público e dos tribunais de contas ou servidores públicos responsáveis pelo controle. Gatos enormes de um lado, ratos acuados de outro.
Nos últimos vinte anos, o governo aumentou em muito a população de gatos, mas a ratazana não permite à queijaria dormir em paz.
As compras governamentais funcionam em um sistema protagonizado por gatos e ratos, onde a tal queijaria, conhecida no mercado como dinheiro público, não tem descanso. É o nosso sistema de controle, que funciona em três etapas:
Os ratos invadem a queijaria e levam parte do queijo.
Os gatos correm atrás dos ratos.
Alguns ratos são pegos e devolvem parte do queijo roubado.
No sistema de controle, a maior parte dos ratos escapa ilesa e os poucos ratos já encontrados devoraram parte do queijo.
Entender as razões que levam à sobrevivência desse sistema não é fácil.
Primeiro, há um custo elevado de transição para uma nova ordem. Conservar é mais fácil que mudar.
Segundo, há um impacto violento em instituições poderosas, como os tribunais de contas e as corporações de controle interno.
Terceiro, há uma razão financeira. Muitos ‘professores’ atuam nesse mercado e ganham dinheiro no Brasil e no exterior, principalmente nos países em desenvolvimento, ensinando o modelo.
Quarto, há um interesse político. Os governos e suas autoridades, administrativas ou políticas, diante da exposição das denúncias, tornam-se vulneráveis à chantagem de outros agentes, inclusive da mídia. Governo fraco paga com queijo bom.
Quinto, o modelo já está devidamente precificado e, cá pra nós, até a corrupção já se acostumou com ele.
Mesmo assim, entendemos que somente um argumento extraordinário poderia manter este modelo com o tamanho que ele assumiu. E ele existe. Com o apoio das denúncias diárias que aparecem nos jornais, alguém se lembra de comentar:
- Imaginem se não existisse controle!
Pois é, já imaginei. Não ia acontecer nada. Coloca este povo do sistema de controle para organizar um sistema de compras bem feito que o país ganha muito mais.
Mas esse é o tema do próximo post sobre o assunto. E o leitor vai perceber que é possível conceber um sistema de compra com tudo dentro, inclusive o controle.














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