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Os Liberais Moderninhos Do Século XVII e A Moçada De 2017

Aquele que puser as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo!

O desafortunado João Sem Terra talvez tenha sido o rei inglês mais desastrado da história. Começou apanhando da família, sendo um filho sem herança. Apanhou dos franceses, perdendo posses importantes do trono inglês. Apanhou dos barões, seus inimigos internos.

A refrega com os barões pegou o rei enfraquecido de outras labutas, fazendo-o aceitar um acordo para lá de desvantajoso, ampliando garantias e liberdades da nobreza e reduzindo seus poderes, até então absolutos.

Tal como o principiante, o desastrado de quando em vez também dá sorte, e não é que justamente o acordo sob coerção levou João Sem Terra à história, como precursor do Estado moderno?

Esse acordo, a tal Carta Magna, ao limitar o poder de um sujeito e ampliar o direito de muitos, entrou na mira da nobreza, da igreja, da burguesia e dos revolucionários do planeta. Todo mundo querendo tirar uma tasquinha dos poderes do rei, à exceção dos revolucionários, que queriam, em verdade, tirar o rei do poder.

Os filósofos, os cientistas políticos e os sociólogos, que são os caras que realmente entendem do assunto, também entraram na discussão, acusando uns aos outros de “liberais’, a turma que não quer saber de dar poderes (dinheiro, principalmente) ao rei, e ‘estatistas’, a turma que é chegada na centralização do poder e dinheiro na mão do rei, com vistas à sua distribuição e ao equilíbrio de renda entre os súditos.

O auge dessa discussão, todos sabem, ocorreu na França. Segundo os revolucionários franceses, o rei e seus nobres simplesmente não tinham a cabeça no lugar e a degola geral veio apenas em favor da materialização daquilo que já ocorria em espírito. Depois, os próprios revolucionários foram degolados. Essa confusão toda deixou Proudhon tão puto da cara que ele partiu para o tudo ou nada, contra tudo e contra todos. O filósofo francês radicalizou geral:

- Aquele que puser as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo!

Se Proudhon pensava que a sua tirada filosófica enfim libertaria todos e ninguém precisaria mais gastar sua cabeça com a discussão sobre o papel do Estado, que afinal, segundo ele, era nenhum, podemos dizer que ele não obteve sucesso.

800 anos depois, os assuntos de João Sem Terra ainda nos ocupam. Os déspotas, os monarcas e os republicanos, estes representando a versão mais moderna do imbróglio, ainda estão na Praça XV e na Avenida Paulista, enaltecendo os predicados de uns e as desvantagens de outros.

Abrimos 2017 no Brasil cutucando o quê, se não o mesmo assunto? Até pouco tempo atrás, a vara de Rousseau dominava o pedaço e pregava um contrato social e, agora, são Locke e Smith os donos da varinha. O interesse particular e o de mercado são os contratos que estão à sua frente, já assinados pela mão invisível do Estado, bastando sua assinatura.

Se você olhar nas letras miudinhas do contrato, perceberá Locke e Smith em sua versão radical. Já não é aquela pauta histórica do liberalismo, que restringia a agenda do Estado à soberania, território, segurança, moeda, saúde e educação.

Agora, o caso é grave. Só se fala em controle inflacionário, equilíbrio de gastos, redução da dívida, pagamento de juros.

Por incrível que pareça, aqueles liberais moderninhos do século XVII deixaram saudades. Que fase.

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