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Sacco, Vanzetti e Lulla

Finalmente, Sacco e Vanzetti, aquelas víboras anarquistas, os italianos que cruzaram o Atlântico para amaldiçoar o modo de vida americano, iriam experimentar pela última vez o veneno do capitalismo. Seus panfletos comunistas não mais sujariam as ruas de Massachusetts. Onde já se viu, explorar uma pretensa dicotomia entre capital e trabalho? Falsos, falsos, aqui nos EUA só há um corpo, o capitalismo.

Observe, atentamente, à sua volta. Uma horda enlouquecida prepara-se para linchar. Pessoas babam, um ódio frontal; cospem, a fotografia se desmancha; soltam palavrão, abafam os gritos; bebem, a briga assusta o bar.

Aconteceu em 1927, como dizia Chico Anísio, em um agourento mês de agosto, uns dias depois de 20, provável que dia 23.

A única preocupação dos norte-americanos, quando acordaram, era com a firmeza do tempo. Em dias lindos, babas transbordam copos, cuspes voam mais longe, palavrões vibram sonoros e as brigas resultam em morte. Em dias lindos, o condenado não tem como escapar, a cadeira elétrica não falha. Aqueles tristes episódios do passado, com as labaredas alcançando apenas a cabeça e não o coração do condenado, a queima seletiva de partes do corpo, o choque batendo apenas no saco, não poderiam marcar a pena de morte dos dois anarquistas. Um dia próprio para retumbar trombetas, não vitimar comunistas.

Sacco e Vanzetti foram acusados e condenados por assalto e assassinato. Mídia, políticos, promotores e até o procurador geral, conhecido na praça como baba-ovo, constrangeram testemunhas, engrandeceram provas frágeis, fraudaram o processo. Centenas de testemunhas, convivendo diariamente com o trabalho deles, inclusive no momento do crime, negaram qualquer possibilidade de estarem, os dois, envolvidos com o caso.

Nada adiantou, ninguém emprestou os ouvidos nem mesmo ao português, membro de uma gangue conhecida do lugar, que assumiu o crime e contou os detalhes, críveis, do assalto e do assassinato. A Justiça não perderia a chance de celebrar Harding, o presidente eleito com o discurso “primeiro, os americanos”, e levar à cadeira elétrica os dois anarquistas italianos.

Lógico que, vinte anos depois, a própria Universidade de Harvard, por meio de seus juristas, classificou o episódio como ‘erro judicial’ e, cinqüenta anos depois, o governador de Massachusetts reparou a injustiça.

Não veio de graça à memória essa história dos dois anarquistas italianos, transformada em livro, filme, manifestações públicas, greves. Até Mussolini apelou pela vida deles, criticando o exagero do ‘fascismo’ norte-americano.

É que estamos assistindo agora um julgamento no Brasil com os mesmos ingredientes e o mesmo manjericão que temperou a carne de Sacco e Vanzetti, noventa anos atrás. Não há um e-mail, um áudio gravado, um sinal exterior, nem mesmo uma testemunha, apontando prova ou evidência firme de que Lula tenha recebido triplex, pedalinho, sítio ou dinheiro em troca de negócios da Petrobrás. Tampouco há dinheiro de palestra que não esteja vinculado a uma... palestra.

Ou se apresentam as evidências ou a classe política, Justiça, mídia e parcela importante da sociedade, a classe média que aprendeu a babar, se sentarão brevemente no banco de réus da história. Em vinte anos, quem sabe, a Justiça reconsidere. Em cinqüenta, o Congresso anistia.

Cuide-se, Lula.

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