Aqui é um hospital de excelência, senhor, mas chegam aqui mais crianças que podemos atender. Colocamos a meninada na ambulância e as enviamos para os hospitais públicos. Só recebemos 25 crianças por dia.
Às vezes, tomamos a raia errada no debate público/privado e seguimos toda vida nela, acreditando em anjos privados e demônios públicos.
Uma ONG que trata a saúde de 50 índios, num par de ocas, oferece serviço superior ao prestado pelo setor público para 500.000 índios.
A Fundação Gol de Letras cuida de centenas de jovens e demonstra ser mais competente que o Estado, que desenha políticas públicas para cinco dezenas de milhões de jovens.
O programa criança-esperança mobiliza a sociedade para atender meninos que não ocupam a barra toda do vestido das mães de Olaria, no Rio de Janeiro, ou Ceilândia, no Distrito Federal.
Tive a oportunidade de visitar uma experiência hospitalar para lá de exitosa na periferia do Rio de Janeiro. Exames pré-nupciais, nascimentos e primeiros cuidados infantis na fronteira da excelência.
Aí, você pensa assim... Vai num hospital público? Mães jogadas nos corredores e crianças caindo, como bêbadas, dos berços.
De volta ao hospital de excelência, perguntei por que havia tanta ambulância no pátio. A nobre enfermeira me esclareceu, contente:
-Chegam aqui mais crianças que podemos atender. Colocamos a meninada na ambulância e as enviamos para os hospitais públicos. Só recebemos 25 crianças por dia.
A excelência atende 25 crianças e as outras centenas de milhares que precisam de cuidados diários vão para os hospitais públicos. Simples assim.
Que o Estado deve melhorar seu atendimento às crianças, não há dúvidas.
Também aos idosos, jovens, mulheres, negros .
São vítimas preferenciais dos erros públicos na educação, saúde, segurança, assistência, justiça.
Mas esses projetos para meia dúzia apenas rascunham o problema.
Servem ao diletantismo ou ao conforto moral de muitos brasileiros. Que acham que o exemplo está aí, basta segui-lo.
Não resolvem o problema, mas resolvem o problema, que temos, do discurso.
Na real, precisamos é botar a mão na massa.